Sumario: |
No Brasil de décadas atrás, quem negasse água, mesmo a estranhos, rezava a tradição, “morreria seco”. Aqui — onde 80% das doenças decorrem de falta de água tratada —, ou na Bolívia — onde a água que falta à população de Cochabamba é vendida a uma empresa belga —, assim como no resto do mundo — onde 12 milhões de pessoas morrem anualmente por falta de água potável, conforme dados da OMS — a crescente privatização da água por corporações dos países mais ricos do mundo é uma urgente discussão ética. As questões ambientais, como o acesso à água, e as sociais prevaleceram nos debates do 6º Congresso Brasileiro de Bioética. Um encontro de muitas dúvidas: como controlar o poder das tecnologias? Como substituir a idéia do domínio pela do cuidado com a natureza? E certezas: boa parte da literatura mundial e dos filmes de Hollywood ensinam a temer a floresta e o que vem da natureza; a bioética busca harmonia entre o homem e a natureza; devemos optar por princípios éticos baseados na solidariedade; cidadania e democracia precisam ser aperfeiçoadas; a sociedade tem que ser protagonista na discussão sobre pesquisas com células-tronco. O governo encaminhou projeto de lei para criar o esperado Conselho Nacional de Bioética e anunciou um milhão de reais para pesquisas em bioética, mas não deixou de ser criticado por decisões da CTNBio e relatórios da Embrapa sobre organismos geneticamente modificados. A Monsanto foi lembrada pelo mau exemplo do “algodão-veneno”, transgênico desenvolvido pela multinacional cujas toxinas teriam causado manchas nos pulmões e cistos nos ovários de camundongos em testes, o que reforça a necessidade do respeito aos princípios da precaução. Nas demais matérias desta edição, outros dilemas. Integrantes do Ministério Público debatem sobre como melhor contribuir para a saúde coletiva e a construção do Sistema Único de Saúde. Pesquisadores da saúde analisam as relações da violência com desigualdade social, gênero, armas de fogo, impunidade, urbanização e educação. Artigo da seção Pós-Tudo denuncia as causas da destruição da floresta amazônica, na rota da BR-163. Ao relatar a criação de um sistema de segurança alimentar para evitar novas mortes de índios por desnutrição, nosso repórter cita interpretação de lendas indígenas que conferem bondade ao deus Tupã e a personificação do mal ao espírito Anhangá. Maniqueísmos à parte, há sempre princípios e valores a nortear a ação humana. Diferentes interesses e éticas conformam esses valores. Cabe à sociedade fazer suas escolhas. Rogério Lannes Rocha Coordenador do RADIS |
Excepto si se señala otra cosa, la licencia del item se describe como Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International