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A despeito da relevância do tema, as condições de alimentação e nutrição das populações indígenas no Brasil permanecem largamente desconhecidas. O presente estudo examina o caso de uma comunidade Wari , grupo indígena localizado em Rondônia, no sudoeste amazônico. Ao longo de um trabalho de campo com duração de oito meses, foram realizados dois inquéritos antropométricos e dois inquéritos quali-quantitativos de consumo alimentar, de modo a investigar variações sazonais nas condições de nutrição. O trabalho envolveu ainda observação participante e entrevistas informais e semi-estruturada. Tanto o consumo alimentar como os perfis antropométricos indicam condições mais desfavoráveis durante os meses de chuva. O estudo revela um conjunto extenso de regras e princípios coerentes aos quais os Wari submetem suas práticas cotidianas direta ou indiretamente ligadas à alimentação. Mais que isso, sob diversos aspectos estas condutas refletem sua dinâmica social, seus conceitos de fisiologia, suas relações com o meio-ambiente e assim por diante. O perfil nutricional é visto como um indicador bastante sensível de suas condições de vida e revela um quadro amplamente desfavorável, confirmado pelo exame das condições sanitárias e dos perfis de mortalidade e morbidade. As prevalências de baixa estatura e peso entre as crianças Wari estão entre as mais elevadas já registradas na literatura sobre populações indígenas no Brasil. O sobrepeso é praticamente ausente, seja qual for a faixa etária considerada. São discutidos o alcance e as implicações das mudanças observadas na economia do grupo e especialmente sua articulação com o mercado regional. Aponta-se para a necessidade de se considerar a sazonalidade na definição de rotinas de vigilância nutricional e na discussão dos perfis de nutrição de povos indígenas. A situação nutricional da população Wari apresenta-se como expressão das desigualdades que a separam do restante da população brasileira, e reflete as interações entre aspectos ecológicos, sanitários, socioculturais e econômicos. O trabalho enfatiza a necessidade de se realizarem estudos que, de forma concomitante, considerem aspectos epidemiológicos e antropológicos com vistas a traçar um panorama mais amplo dos determinantes das condições alimentares e nutricionais dos povos indígenas no Brasil. |
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