Repositorio Bibliográfico Biocultural

Somos un mismo pueblo con culturas diversas

Sumario: Esta pesquisa estabelece uma análise comparativa das obras Macunaíma, herói sem nenhum caráter (1928) de Mário de Andrade e Meridiano de Sangue (1985) de Cormac McCarthy. Questões de linguagem no sentido de representação de mundo, violência e ambiguidade de caráter são levantadas, sob a perspectiva pós-modernista e pós-colonialista, a fim de se discutir a identidade das duas nações em questão – a brasileira e a estadunidense. Para tal, discute-se em que medida Macunaíma e Meridiano de Sangue se aproximam ou se distanciam nas discussões identitárias das suas contemporaneidades; analisam-se as características fundamentais dos heróis das duas obras em questão para justificar comparativamente as suas formações com respeito à ambiguidade, linguagem e violência; e demonstra-se a convergência das estéticas de Macunaíma e Meridiano de Sangue para a possibilidade de uma leitura pós-modernista e pós-colonialista dessas obras. Foram fundamentais as leituras de Eduardo Coutinho (2003), Stuart Hall (2006), Jeremy Hawthorn (1992), Linda Hutcheon (1991), Jean François Lyotard (1992), Boaventura de Sousa Santos (2009) e Homi Bhabha (2014), nas discussões em torno do pós-modernismo. Roberto Damatta (1997) e Roberto Reis (1987) foram teóricos importantes sobre o Brasil do período colonial, para que então fosse possível discutir o pós-colonialismo sob as teorias dos já citados Boaventura de Sousa Santos (2009), Homi Bhabha (1998) e Eduardo Coutinho (2003), além de Silviano Santiago (2000); Kimberle López (1998) e The Cambridge Companion to Cormac McCarthy (2013), organizada por Steven Frye, foram fundamentais devido à sua importância dentro dos estudos pós-coloniais que envolvem Macunaíma e Meridiano de Sangue. Antonio Candido (1993) e Alfredo Bosi (1975) foram aparato teórico base à análise estética de Macunaíma, enquanto Steven Frye (2013) e David Holloway (2003) foram base ao entendimento da obra de McCarthy, junto com a obra An Outline of American History (1994) organizado por Howard Cincotta que foi importante na estrutura dos argumentos em torno da formação dos Estados Unidos. Como a formação e uma determinada estrutura social estão em voga em Macunaíma, percebe-se neste trabalho como Kid e Macunaíma plasmam suas nações na formação das suas subjetividades, a notar-se a ambiguidade que ambos possuem como característica, Kid em sua maneira de defrontar a violência e Macunaíma nas suas contradições e transformações constantes; a linguagem de ambos também demonstra um processo identitário, pois enquanto Kid se insere em um contexto bélico e esse lhe permite sobreviver, Macunaíma precisa absorver antropofagicamente a civilização e se inserir em um contexto de códigos novos de comunicação. Sobretudo, as duas obras dialogam com o conflito de perda de autoridade, deslocamento, ou até mesmo dizimação, do que tem se considerado o selvagem, no processo civilizatório. Enquanto Macunaíma é o próprio selvagem, que têm de se deslocar à civilização para recuperar sua posse que foi usurpada, Kid constitui a força oposta, a que está a usurpar os indígenas, as suas cabeças, literalmente. São, portanto, duas discussões muito próximas sob perspectivas diferentes. Descobriu-se neste trabalho que, embora em contextos e momentos diferentes, Andrade e McCarthy discutem de maneira similar suas contemporaneidades, por meio de questões referentes à identidade, que dão mote à construção dos seus personagens, linguagem e estilo das suas obras. Dessa forma ambos os autores convergem às características pós-colonialistas e pós-modernistas.

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