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Desde os anos sessenta, quando pela primeira vez os dirigentes soviéticos anunciaram a formação da nação soviética, os povos indígenas siberianos vêm recebendo amplos elogios pelo seu salto heroico de sociedade comunal-primitiva para o socialismo. Em contraste com outros segmentos mais populosos da União Soviética, eram considerados menos avançados, segundo a escala marxista de progresso histórico; ao se inserirem na modernidade, teriam queimado etapas em modos de produção, pulando as fases escravista, feudal e capitalista. São muitos os títulos de livros que proclamam essa «passada por cima milhares de anos», na qual os primeiros dias de reconstrução social «eqüivaleriam a séculos», tomando-se hábito prefaciar estudos sobre a cultura nativa siberiana com trechos como este: «Os resultados dessa empreitada gigantesca [a constmção socialista] são imediatamente visíveis: a erradicação do analfabetismo, a criação de línguas escritas, a emergência de literatura nativa, conjuntos de música e dança e, por fim, a própria existência de intelectualidade nativa — tudo isso permite-nos concluir que as culturas dos povos nativos [do norte] cessaram de ser «tradicionais» para começarem a ser «históricas», isto é, em desenvolvimento» (Derevianko & Boiko 1986). Assim, com o desenvolvimento cultural dos povos setentrionais, «um processo planificado e dirigido», o governo soviético retirou a população indígena da atemporalidade e trouxe-a para a história. A passagem da tradição à modernidade coadunava-se também com a política soviética sobre nacionalidade que surgia nos anos vinte. Ao sustentar a tese de que a tensão étnica era baseada nas diferenças de classe, os bolchevistas declararam que o desaparecimento da luta de classes no comunismo teria o efeito de atrofiar as lutas interétnicas (e, conseqüentemente, a identidade étnica). Livres de opressão, os povos soviéticos floresceriam e se uniriam em um novo ethnos internacional. |
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