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É de conhecimento que as atividades humanas causaram grandes transformações em diversos ecossistemas, afetando a diversidade global de espécies. Mas existe uma grande urgência em entender como essas atividades vem influenciando historicamente a persistência dos organismos. O estudo da ocorrência de uma espécie em tempos históricos é um meio de indicar mudanças do padrão de distribuição de espécies e ainda mostrar a influência humana na vulnerabilidade dessas populações. A investigação histórica em publicações antigas nos fornecem detalhadas descrições sobre a ocorrência das espécies em diferentes séculos, principalmente em períodos anteriores ao estabelecimento definitivo de populações humanas. Nós realizamos um estudo com os grandes mamíferos na Mata Atlântica Oriental, utilizando publicações dos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX para acessar registros desconhecidos ou ignorados pela ciência e comparamos com os registros recentes. Tivemos como objetivos (1) resgatar informações sobre a identidade e a distribuição geográfica dos mamíferos de grande porte, traçando o conhecimento científico dos primeiros séculos de colonização do Brasil; (2) identificar padrões de contração da área de ocorrência dos mamíferos causados por extinções regionais; e (3) indicar quais são os principais fatores, instrínsecos e extrínsecos, que aumentam a vulnerabilidade à extinção de mamíferos de grande porte na Mata Atlântica. Dentre as inúmeras obras antigas consultadas, reconhecemos pelo menos 45 táxons de mamíferos de grande porte foram comentados pelos autores. Identificamos que muitas das descrições feitas entre os séculos XVI e XVII eram descritas da mesma forma, indicando que as informações eram provenientes de fontes similares (e.g. cultura indígena, observações de estrangeiros precendentes). Devido à evolução da ciência, o século XIX contribuiu com o conhecimento sobre a diversidade e ocorrência de mamíferos de forma mais sistematizada. Para identificar os padrões de ocorrência e de contração de área das espécies, comparamos a ocorrência antiga e recente de 29 espécies de mamíferos na Mata Atântica Oriental. Para cinco espécies, encontramos que a distribuição histórica é maior do que a documentada na literatura e para 16 espécies, entendemos que ocorreu contração da área de ocorrência, sendo que nove perderam mais de 50% da sua área histórica. Porque muitos dos grandes mamíferos da Mata Atlântica Oriental estão sob risco de extinção, indicamos quais são os principais fatores intrínsecos e extrínsecos que aumentam à vulnerabilidade dessas espécies. Utilizamos métodos filogenéticos comparativos e análise de regressão logística e avaliamos o padrão espacial e temporal dos registros históricos dos mamíferos. As espécies analisadas com características reprodutivas lentas foram as especialmente vulneráveis. Além disso, para cinco espécies, áreas com menor densidade demográfica influenciaram as suas ocorrências recentes. Análises históricas como estas revelam que extinções regionais de mamíferos de grande porte estão ocorrendo na Mata Atlântica Oriental. Esses resultados podem ser utilizados para aperfeiçoar o conhecimento das condições históricas das espécies e aprimorar estudos e planejamentos futuros de manejo de mamíferos de grande porte. |
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