Repositorio Bibliográfico Biocultural

Somos un mismo pueblo con culturas diversas

Sumario: A presente tese propõe um estudo sobre a obra da escritora indígena brasileira Eliane Potiguara, sobretudo do livro Metade Cara, Metade Máscara (2018). Nele, a autora apresenta poemas, relatos, ensaios e artigos em torno do universo indígena, em que aborda a diáspora desses povos pelo interior do território brasileiro, com seus desdobramentos, como por exemplo, as violências e opressões, até a atualidade, sempre pelo olhar feminino. O objetivo é investigar como a identidade feminina indígena é construída na obra. Neste sentido, verificamos que essa identidade se manifesta de modos variados no conjunto analisado. Em primeiro lugar, a inspiração para a produção intelectual e poética da autora surgiu a partir das narrativas da avó indígena que a influenciaram desde a infância. Essa correlação sugere que a constituição da identidade feminina indígena, na obra, tenha como sustentação a memória e os conhecimentos ancestrais transmitidos pela avó da narradora, por meio da contação de histórias. Por outro lado, a temática feminina permeia os textos da escritora, seja na defesa dos direitos ou na denúncia das injustiças sofridas pelas mulheres indígenas e socialmente excluídas. Assim, percebemos que há um imbricamento da produção poético-literária com a luta em prol dos direitos femininos. Na sequência, percebe-se uma cosmovisão étnica em que o olhar da mulher indígena engendra o processo composicional da escrita. Por outro lado, as expressões literárias dos autores indígenas brasileiros, em língua portuguesa, são relativamente recentes. De modo geral, as primeiras publicações apareceram há algumas décadas. E, nos últimos anos, aumentaram significativamente. No entanto, ela é ainda pouco conhecida e pouco difundida nos ambientes culturais e acadêmicos; e, muitas vezes, as produções são vistas com resistência por parte de alguns leitores. Essa autoria dos representantes dos povos indígenas brasileiros tem a vantagem de possibilitar a expressão sob a ótica do interior das culturas dos muitos povos indígenas que compõem o tecido social brasileiro. Desenvolvemos essa pesquisa bibliográfica qualitativa de forma analítico-descritiva e de caráter interpretativo para realizar análise de material literário, buscando recortes que permitam compreender os aspectos poéticos da obra da escritora indígena Eliane Potiguara, na perspectiva da construção da identidade feminina, relacionada à ancestralidade. Este estudo está fundamentado nos teóricos Stuart Hall, Eurídice Figueiredo, Margareth Rago, Gayatri Chakravorty Spivak, Gaston Bachelard, Luiza Lobo, Alfredo Bosi, Liane Schneider e em obras de escritores indígenas: Eliane Potiguara, Graça Graúna, Ailton Krenak, Daniel Munduruku, Márcia Wayna Kambeba, Lia Minapoty, Auritha Tabajara; Kaká Werá, Sônia Bone Guajajara; Yaguarê Yamã, entre outros. A literatura indígena atua em favor da preservação da memória, da identidade e da ancestralidade das diversas comunidades indígenas brasileiras. Para efeito dessa análise, acreditamos ser possível contribuir com a produção e a disseminação dos estudos sobre a produção literária de autoria indígena – dos intelectuais indígenas brasileiros-; e, por conseguinte, a revisão do cânone na história da literatura brasileira. Acreditamos também que a literatura possa colaborar para a desconstrução de visões preconceituosas sobre a diversidade de grupamentos étnicos e suas culturas.

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